Texto de Eva Waisros Pereira
O Museu da Educação do Distrito Federal (MUDE) configura-se como espaço cultural e educativo apropriado para a preservação e disseminação da memória e da história das instituições educativas, de seus protagonistas e das práticas nelas desenvolvidas. Sua missão é preservar, salvaguardar e difundir a memória da educação da capital brasileira, com vistas a fortalecer a identidade da escola e do professor, contribuindo para a qualidade e renovação dos processos educativos, em benefício da cidade e dos seus cidadãos.
A premissa da qual parte é de que a formação identitária do professor requer o conhecimento de suas raízes, para que ele se reconheça como protagonista de um processo histórico de mudanças criativas na educação. Sentir orgulho de ser professor e ter valorizada sua identidade profissional dignificam a trajetória de todo o educador no seu fazer pedagógico cotidiano.
O Museu da Educação vincula-se, institucionalmente, à Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal e, para o seu funcionamento, conta com a parceria da Universidade de Brasília. Instalado em sala do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares dessa Universidade, funciona sob a responsabilidade de uma equipe multidisciplinar de professores, designados pela Secretaria de Educação, sob a coordenação da Professora Eva Waisros Pereira, pesquisadora da instituição universitária. Assim, embora não tenha ainda sido oficialmente criado, o Museu funciona de fato, promovendo uma gama de atividades patrimoniais, culturais e educativas junto às escolas e a comunidade brasiliense. As suas ações têm seu eixo norteador na educação patrimonial e na educação ambiental, visando ao fortalecimento das raízes identitárias da comunidade, de seu território, da cidadania e da inclusão social.
A proposta de se criar o Museu da Educação teve origem na Universidade de Brasília, como um dos objetivos da pesquisa sobre a memória da educação do Distrito Federal, iniciativa de um grupo de professores da Faculdade de Educação que se dedica a esse trabalho há mais de duas décadas. O grupo de pesquisadores ampliou-se, gradativamente, com a participação de docentes e estudantes de diferentes áreas de conhecimento, além de professores da rede pública de ensino, tendo produzido uma trilogia de livros sobre a história da educação local.
No decurso das pesquisas realizadas sobre a temática, constituiu-se acervo valioso sobre a educação básica no Distrito Federal, desde os seus primórdios. Esse acervo, em processo permanente de ampliação, reúne documentos oriundos de arquivos públicos e privados, que se apresentam em diferentes suportes: textuais, iconográficos e audiovisuais, além de objetos.
A maior riqueza desse patrimônio cultural e educativo são os depoimentos de professores, estudantes e gestores do sistema educacional do Distrito Federal, concedidos ao museu por meio do projeto de história oral. As falas dos protagonistas da educação brasiliense revelam desde características pessoais e profissionais dos atores sociais envolvidos até questões relacionadas à cultura escolar – saberes, práticas e representações –, permitindo uma aproximação aos cotidianos escolares. Compõem o acervo cerca de quatrocentas entrevistas
gravadas nas modalidades fita cassete, CD e vídeo.
No cômputo geral, o acervo dispõe de cerca de dezoito mil documentos organizados sob parâmetros arquivísticos e museais. Esse patrimônio cultural e educativo, de natureza material e imaterial, encontra-se sob a guarda da Universidade de Brasília e será destinado ao Museu da Educação do Distrito Federal, que dele se
apropriará, tão logo disponha de sede própria, para abrigar, expor, refletir e interpretar os bens dos quais será guardião.
Tem sido prática corrente, no trabalho cotidiano da equipe, disponibilizar documentos, para consulta, a pesquisadores, professores e estudantes, sempre que solicitados. É possível também conhecer a documentação por meio do site do museu, no endereço eletrônico http://www.museudaeducacao.com.br/, que se constitui o meio de comunicação virtual criado para difundir e ampliar o diálogo com a comunidade escolar e ao público em geral, sobre a memória e história da educação brasiliense. Paralelamente, o museu desenvolve o compartilhamento nas redes sociais, com a utilização das plataformas do Facebook e Youtube.
Registre-se, ainda, que, no intuito de preservar e disponibilizar amplamente o acervo ao público interessado, foi criado, em 2015, o Sistema Arquivístico Museu da Educação (SAMUDE), hospedado na plataforma http://104.131.61.205/samude/.
As principais demandas para que o Museu da Educação venha a expandir os seus programas institucionais e cumprir plenamente suas funções, conforme prevê o seu plano museológico, referem-se à construção de sede própria e à garantia de uma estrutura para viabilizar o atendimento qualificado a seus diversos públicos. Neste sentido, propôs-se instituir, por meio de projeto de lei, a Fundação Museu da Educação do Distrito Federal (FAMUDE).
No que tange à sede, permanece a ideia inicial de reconstrução da primeira escola pública do Distrito Federal – a escola Júlia Kubitschek – para abrigar o museu. Essa escola, projetada por Oscar Niemeyer e edificada em 1957, no núcleo pioneiro da Candangolândia, tornou-se o embrião da experiência inovadora de educação proposta por Anísio Teixeira para Brasília. Construída em madeira, assemelhava-se ao Palácio do Catetinho, razão pela qual era chamada pela comunidade de “Catetinho da Educação”. Pelo seu simbolismo e valor histórico, constituirá a primeira peça do museu.
A batalha que há longo tempo vem sendo travada pela reconstrução dessa escola, inicialmente sob a coordenação da Universidade de Brasília e, em seguida, pela Secretaria da Educação, vem surtindo efeitos promissores. Por força de uma articulação estratégica realizada junto a instituições governamentais, de âmbito local e nacional, foram amalgamadas parcerias em torno desse propósito.
Entre os resultados alcançados, mencione-se a cessão, pelo Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Distrito Federal – Brasília Ambiental (IBRAM-DF), de terreno de um hectare, no Parque Vivencial dos Pioneiros, para a construção da sede. Esse importante ganho impulsionou o andamento das negociações entabuladas com o Governo do Distrito Federal, por meio da Secretaria da Educação, que, em 1914, assumiu o compromisso de realizar a obra, incluindo rubrica na Lei Orçamentária Anual (LOA), referente à construção do Museu da Educação.
Obtida autorização do arquiteto Oscar Niemeyer, autor do projeto original, o titular da pasta da educação encaminhou solicitação à Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (NOVACAP), com vistas à realização da obra. Assim, os projetos arquitetônico, executivo e complementares do Museu da Educação foram elaborados pela empresa, devidamente orçados e aprovados em todas as instâncias, com prioridade na execução.
O acolhimento desse projeto pela Câmara Legislativa do Distrito Federal e o efetivo apoio de deputados que, sensibilizados e convencidos da importância da iniciativa para a cidade, apuseram suas assinaturas em
emendas destinadas à construção do Museu da Educação, coroaram. de forma exitosa, esse longo e trabalhoso processo.
Não obstante, a licitação da obra e sua edificação prevista para o ano de 2020, lamentavelmente, não se concretizaram. Com o advento da pandemia e consequente alocação de recursos financeiros decorrentes de emendas parlamentares para outras pastas, inviabilizou-se o cumprimento do cronograma proposto.
Com a retomada das negociações, espera-se que as dificuldades à reconstrução da escola Júlia Kubitschek sejam superadas, para se devolver aos brasilienses esse importante monumento histórico dos primórdios da nova capital e, ao mesmo tempo, realizar o sonho acalentado pelos educadores de que o Museu da Educação, sediado nesse espaço e à serviço da sociedade, venha a dar nova forma e vida à história da educação do Distrito Federal, para afirmar a memória educativa da cidade.
Texto enviado para publicação
Comments