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A avaliação das aprendizagens: significações constituídas

A avaliação das aprendizagens: significações constituídas pelas coordenadoras pedagógicas, professores e estudantes de uma escola pública do Distrito Federal


Introdução

Este estudo faz parte da minha dissertação de mestrado intitulada: “A avaliação no 3º ciclo e suas implicações na organização do trabalho pedagógico de uma escola pública do Distrito Federal”, defendida no ano de 2019. Ressalto que resolvi estudar a avaliação porque esta categoria do trabalho pedagógico sempre me inquietou e porque o processo avaliativo pode assumir um duplo sentido, favorecendo o sucesso, mas também o fracasso escolar. Além disso, a avaliação pode funcionar como um mecanismo de legitimação e conservação da ordem social estabelecida, podendo excluir do sistema escolar aqueles que não conseguem atingir os objetivos esperados, reforçando e reproduzindo a luta de classes existentes na própria sociedade (BOURDEAU; PASSERON, 1992). Mas a avaliação é uma prática comum, e o cotidiano das pessoas está impregnado por processos avaliativos, ocorrendo o tempo todo. Na escola, não é diferente, porém no espaço/tempo escolar a avaliação é intencional, ou seja, é realizada de maneira planejada e desenvolvida a partir de objetivos definidos, previamente, pelo professor ou pelo grupo de professores. Nesse sentido, avaliar envolve alguns questionamentos: quem será avaliado? O que será avaliado? Como será avaliado? Onde será avaliado? Quais os instrumentos avaliativos que serão utilizados? Assim, ao avaliar o professor pode conceder à avaliação diversificadas funções para: classificar, atribuir nota, intervir em situações de aprendizagem, observar se os objetivos foram alcançados, entre outras. Durante a minha atuação profissional, lecionando na educação básica e também como pesquisadora, observei que o processo avaliativo, ainda, apresenta desafios a serem vencidos por todos que fazem parte da comunidade escolar, principalmente, nos ciclos, em que o trabalho pedagógico deve estar voltado para o atendimento das necessidades de aprendizagem de todos os estudantes. Assim, a avaliação, nos ciclos, “reverte-se de uma nova natureza com fins radicalmente novos: a promoção humana e social do estudante” (SOUZA; ALAVARSE, 2003, p. 89). Partindo desse entendimento, realizei esta pesquisa, procurando responder à seguinte indagação: quais as significações constituídas por professores, estudantes e coordenadoras pedagógicas acerca da avaliação das aprendizagens no 3º ciclo? A partir desse questionamento, propus o seguinte objetivo: analisar as significações constituídas por professores, estudantes e coordenadoras pedagógicas acerca da avaliação das aprendizagens no 3º ciclo. Na verdade, eu queria saber qual o entendimento dos docentes, coordenadores pedagógicos e alunos, que trabalham na perspectiva dos ciclos, tinham acerca da avaliação, e, também, como eram desenvolvidas as práticas avaliativas nos diferentes componentes curriculares que fazem parte do currículo do 3º ciclo (ensino fundamental – 6º ao 9º ano) no Distrito Federal. Assim, procurei entender como a avaliação das aprendizagens vem sendo compreendida e como vem sendo desenvolvida em uma escola que havia implantado os ciclos em 2017. Metodologia A abordagem metodológica utilizada nessa pesquisa é de natureza qualitativa, conforme Lüdke e André (1986), as quais esclarecem que neste tipo de investigação “tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento” (Idem, p. 11). O tipo é o estudo de caso, definido como “ o estudo de um caso, seja ele simples e específico” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 17). Essa investigação se embasou nos pressupostos metodológicos referenciados por Gamboa (2006) com base em três categorias: epistemológica, gnosiológica e ontológica, articulando teoria e prática, considerando a perspectiva crítico-dialética e as relações entre as concepções de homem, história e realidade. Gamboa (2006, p. 24), entende que “o conhecimento é resultado da relação entre um sujeito cognoscente e um objeto a ser conhecido”. O procedimento utilizado para a análise das narrativas foram os núcleos de significação, propostos por Aguiar e Ozella (2006, 2013), os quais têm o objetivo de instrumentalizar o pesquisador, de acordo com os fundamentos epistemológicos da Psicologia Sócio-Histórica, para que seja possível a apreensão das significações constituídas pelos sujeitos em uma determinada realidade (AGUIAR et al. 2015). Nessa investigação, pesquisei uma escola pública do Distrito Federal, ou seja, a segunda fase do Ensino Fundamental, compreendendo o 3º ciclo para as aprendizagens, segundo os critérios: indicação da Coordenação Regional de Ensino e por se destacar no trabalho pedagógico desenvolvido. Para a construção dos dados, foram realizadas análises: do Projeto Político-Pedagógico da escola (2018), das Diretrizes Pedagógicas para a Organização Escolar do 3º Ciclo (2014a), das Diretrizes de Avaliação Educacional da Secretaria de Educação do Distrito Federal (2014b), do Regimento Escolar da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal (2015) e do Currículo em Movimento da Secretaria de Educação do Distrito Federal (2014c); desenvolvidas entrevistas semiestruturadas com 2 coordenadoras pedagógicas, 11 professores com os seguintes quantitativos e componentes curriculares:  1 professor de Língua Inglesa;  1 professora de História;  2 professoras de Língua Portuguesa;  1 professora de Artes;  1 professor de Geografia;  1 professora e 1 professor de Matemática;  2 professoras de Ciências e  1 professora de Educação Física. Ressalto que realizei entrevistas com dois professores de Matemática, Língua Portuguesa e Ciências porque estes docentes não eram os mesmos nas duas turmas observadas, 7º e 9º anos. Também foram desenvolvidos dois grupos focais, em dias diferentes, sendo um grupo focal realizado com 7 alunos do 7º ano e outro com 8 alunos do 9º ano. A escolha destes estudantes do final dos blocos (7º e 9º ano) se justifica por ser, possivelmente, nesses anos que a avaliação tenha maior peso, pois nessas etapas da escolarização está prevista a retenção dos alunos. Destaco, ainda, que a escolha destes estudantes se deu durante as observações, de acordo com os critérios: disponibilidade para a participação na pesquisa e assinatura do termo de consentimento livre esclarecido pelos pais e/ou responsáveis pelos alunos participantes da pesquisa. Para compreender a perspectiva de avaliação desenvolvida no dia a dia escolar, realizei observações de aulas em 2 turmas, nas quais os docentes pesquisados lecionavam (uma turma do 7º e uma turma do 9º ano), e, nas quais os alunos participantes do grupo focal estudavam. A fim de compreender, profundamente, as significações da avaliação desenvolvida pela escola, também realizei observações nos conselhos de classe, nas reuniões de pais, nas reuniões de planejamento, nas coordenações coletivas e nos eventos da escola, tais como feiras e festas aberta à comunidade escolar.


Texto escrito por: Gilcéia Leite dos Santos Fontenele

Gilcéia Leite dos Santos Fontenele Instrumento: Rev. Est. e Pesq. em Educação, Juiz de Fora, v. 22, n. 3, p. 589-604, set./dez. 2020


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